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Tempo

Dizem que galo velho sempre acorda primeiro, para não se arriscar a cair do poleiro. Dizem o que querem, mas nem sempre provam ou comprovam e eu já nem sei por quais razões cheguei até aqui, depois de ficar esperando mais de hora para dar bom dia ao sol, que me deu a impressão de hoje andar meio preguiçoso. Acho que é o frio! É verdade, acordei quando a estrela matutina ainda se levantava no horizonte e não consegui mais conciliar o sono, porque fiquei divagando (e isso são horas? – perguntaria você), lucubrando a partir da possibilidade de uma praia cheia nesta manhã que entremeia um feriado e o final de semana, permitindo que (agora é hora de arranjar mais alguns desafetos!) os funcionários públicos aproveitem as vantagens que não se dá a qualquer outro cidadão. Dane-se o patrão! Pois é! E por quê? Respostas e justificativas com certeza também irão surgir entre olhares de soslaio. E por aí o sono se foi, perdido em divagares sobre direito, deveres e desigualdades perante a lei... Rea

O Cotidiano

Hoje o mar estava plácido e ainda verde-esmeralda, mas não vamos falar sobre a caminhada, que foi deliciosa.  Relembremos o que se vê por aqui, no Boqueirão, enquanto o meu cafezinho esfria.  Pela segunda vez a cadelinha de rua quase foi atropelada. Dá vontade de pegar a “dona” e dar uma lambada! Aliados à maioria dos motoqueiros (motociclista é outra coisa!), alguns moradores de rua cruzam a avenida da praia de forma suicida, mas não são somente esses, pois dentre os muitos adolescentes com uniforme escolar que por aqui transitam de bicicleta, alguns também se arriscam em travessias suicidas, vazando os sinais vermelhos dos semáforos. Sim, a pé também!  Arrepiei-me agorinha ao ver um jovenzinho e uma menina com uniformes de cor azul (o mesmo dos jovens ciclistas) e nos quais eu estava de olho - encantado, relembrando-me dessa fase de meus netos -, correrem na frente dos veículos para ganharem alguns segundos.  Foi por pouco!  Junte-se à inconseqüência e à imprevidência da juventude, a

Caminhando

Mar verde-esmeralda, no canal a água parece de piscina e pelo caminho nenhum caco de vidro. Que alegria!   Sopra um vento gelado que nem mesmo a manhã ensolarada ameniza.    A criança que jamais me abandona vai catando conchinhas, escolhendo-as a dedo.    Na mureta do Canal 5 um bando de garças, talvez mais de uma família em dia de piquenique.    Bem mais adiante, lá pras bandas do Canal 6, um albatroz solitário em vôo rasante em busca de alimento.   Adiante, quase chegando lá, a rara figura de uma gaivota almoçando as carnes de um bagre na beira do mar (sim, fotos!).    Ultrapassado o canal, um pequeno cão corre os urubus.    Bêbado como um gambá, o jovem me assusta e interrompe o alinhavo do texto acima com seu vozeirão.   Aproxima-se, pede desculpas e estende uma caixinha de papelão com uma abertura no topo e que eu pensei que fosse para colocar esmola.    Não! Foi o que eu disse secamente ao pobre coitado que estava querendo cambiar um pacote de jujubas por alguns trocados.    Arre

Um dia de outono

Faz frio nesta manhã ensolarada na beira do mar.  Conchas e mais conchinhas, cacos de vidro e o azul impecável do firmamento.  Entre um caco de vidro e outro recolhidos, o cumprimento do "GS" que vai passando (encontrei-o novamente na volta).  Sai-se da beira do mar para descartar os cacos na lixeira e aproveita-se a proximidade do banheiro. Faz frio, os pés na água gelada induzem...  Segue a caminhada, “peço licença” e recolho uma conchinha que vai parar no bolso da bermuda.  Mar cor de esmeralda; mais um caco, dois, três e é preciso buscar uma lixeira lá na calçada, para descartar o vidro cortante.  Na volta abordo a “senhora dos olhos verdes” (Agora ela tem nome), que hoje caminhava calçada e no seco. Chega de tratar os conhecidos pelos apelidos colocados à distância. Justifico-me lembrando a conversa com Escandon dias atrás. Ela diz que seu nome é difícil, mas eu entendi na segunda repetição e gravei através da associação com outro. Disse-lhe o meu. Falei a ela sobre o “L

Gente

Quando se usa a expressão “gente”, é possível estar falando de um grupamento de pessoas ou de alguma delas em especial. Neste caso específico queremos falar de gente importante.  Há pessoas importantes em qualquer lugar do mundo, em qualquer ramo de atividade, em qualquer nível social ou cultural, mas a importância a que queremos nos referir é aquela importância que vem do “Ser”, vem do estágio de evolução da alma que habita aquele corpo físico, gente de importância para o universo ao seu redor e que fica marcada perenemente. Gente cuja essência fica gravada no âmago daqueles que com elas têm o privilégio de conviver.  O transporte coletivo em nossa cidade vai de mal a pior, especialmente na quantidade de veículos em circulação e mormente em alguns pontos de parada servidos por determinadas linhas, onde a espera se prolonga usualmente em torno de uma hora. Um desses locais se situa na Rua Galeão Carvalhal, na esquina com a Rua Carlos Affonseca, no coração do Bairro do Gonzaga, um ponto

Prosa e mais prosa

Vemo-nos muito raramente desde que a pandemia tomou conta do mundo. Agora, parece que ela vai se acalmando, mas ainda continuo reticente e não me arrisco com frequência para qualquer área que se afaste do quebrar das ondas.  Ontem, porém, tinha algumas coisas a fazer na cidade e pensei em ir até a Casa do Trem Bélico e tomar um café com o Zé Corneteiro, mas lembrei-me que ele só está por lá nos finais de semana. Segui cuidando dos meus afazeres e, aqui por perto de casa comprei a bateria de lítio de que precisava para reposição e reserva, tomei um ônibus que me deixou quase no centro da cidade e fui caminhando sem pressa, observando as velhas construções em decadência e deixando fluir as memórias de minha juventude; “un vieux flâneur”.  Parei em uma banca de camelô e acabei comprando três pares de meias, atravessei a rua movimentada e fui retirar o cartucho de tinta de impressora, que já estava pronto. Dois minutos de prosa na tabacaria de seu Mário e voltei à Rua João Pessoa, procuran

Eclipse

Fazia alguns dias que não nos estendíamos em nossas longas e habituais conversas ao telefone. Passava das nove e meia da noite quando me decidi a ligar. O primo Fernando sempre diz que não tem hora... Gentileza ou não, aproveitei-me, mas não nos estendemos por mais que uma hora, pois uma tosse desarrazoada, extemporânea, incômoda e persistente cortou o prazer da prosa. Despedimo-nos, com a promessa de continuarmos em outra hora. Momento que pelo jeito não deverá demorar, porque agora pela manhã surgiu uma dúvida em minhas lembranças da casa de vovó Cyomara, onde ambos moramos na infância, em épocas distintas. Bem distintas, pois com a demora da primeira gravidez de minha mãe, esse primo remanescente (foram-se todos os outros), uma semana antes de meu aniversário, agora em setembro, estará completando noventa anos de vida. Desligado o telefone, a tosse também se foi e nem precisei de xarope. Saltitei de canal em canal, naquela busca ilusória  por um "bom filme", enquanto aguar